A procissão dos homens anuncia a vida a partir da morte, alimentando a fé e as energias vitais para enfrentar um cotidiano marcado por inúmeras dificuldades.

Com o objetivo de registrar uma tradição rica em simbolismos, o documentário "A procissão dos homens" foi filmado no povoado de Bananeiras, Território do Piemonte Norte de Itapicurú.


Quem sou eu

Ficha Técnica: Diretora - Clarissa Rebouças; Ass. de direção - Lara Belov; Diretor de Fotografia - Jero Soffer; Produtor - Davi Caires; Produtor local - Ailton Ribeiro; Still - Belle Mojás; Operador de Áudio - Kleber Morais; Montagem - Marcelo Villanova; Desenho de Som e Finalização de Áudio - Glauco Neves

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pré-produção



Saí de Salvador junto com a equipe, no dia 26 de agosto rumo ao município de Antônio Gonçalves, onde ficamos hospedados, distante apenas 10km do povoado de Bananeira.
No dia seguinte logo pela manhã conhecemos o nosso produtor local, Ailton Ribeiro, e seguimos pra Bananeira a fim de conhecer mais sobre a história do lugar, da procissão e os moradores. Conversei bastante com pessoas de idades variadas que me contaram um pouco sobre a procissão dos homens a partir da sua vivência.
As experiências contadas se complementam formando uma espécie de quebra-cabeça onde as peças se encaixam e contam a história daquele lugar. Por não ter quase nenhum registro documental, as pessoas sabem muito pouco sobre a origem do lugar e das manifestações que lá acontecem. Só mesmo ouvindo um pouco dali e de acolá temos a sensação de conhecer um pouquinho sobre aquele povoado.
Apesar disso, ou mesmo por isso, é um povoado riquíssimo culturalmente, cheio de histórias belas e curiosas, além de contar com belas paisagens naturais: cachoeiras, morros, barragem. Conservam a prática da casa de farinha e do engenho de açúcar, de onde várias famílias tiram o sustento. Outras contam com o cultivo e colheita do feijão.
Sem dúvidas, nossa presença aguçou a curiosidade de todos, mas sabendo do nosso objetivo ali, todos com quem conversei se mostraram interessados e dispostos a contribuir para a feitura do documentário. Acordamos inclusive que seria melhor fazer o ensaio da procissão em novembro do que filmá-la na data em que ocorre, porque aí não mexeremos com o ritual da fé, além de firmamos esse acordo entre moradores e equipe de filmagem.
Não posso deixar de citar Núbia, uma moça muito simpática que nos ajudou bastante apresentando-nos às pessoas mais velhas e àqueles que tem uma participação efetiva na procissão. Pôpô e Nelinho que nos recepcionaram tão bem, inclusive nos levaram pra passear e conhecer um pouco mais da região. Fora tantos outros que foram fundamentais para que esse primeiro contato fosse tão prazeroso e produtivo.
Conseguimos cumprir bem essa primeira etapa, pois alem do apoio que recebemos lá, a equipe trabalhou bem, sem conflitos. Agora é preparação pra filmagem que ocorrerá em outubro.


Foto por: Jero Soffer
Texto: Clarissa Rebouças

Apresentando...


‘Procissão dos Homens’ é um documentário a ser realizado graças ao edital do IRDEB que contempla os 26 territórios de identidade da Bahia.

A procissão dos homens cujo nome do documentário já anuncia, acontece toda sexta-feira da paixão no povoado de Bananeiras distrito de Pindobaçu. Na ocasião, os moradores se reúnem na igreja construída a mais de dois séculos para rezar. À meia noite os homens saem sorrateiramente rumo ao cemitério carregando uma cruz coberta por um pano branco representando Jesus Cristo crucificado. Lá, alguns se escondem nos matos pedindo pai nosso para as almas que se foram, e os outros que ficam em frente ao cemitério rezam os pai-nossos pedidos. De lá retornam em procissão até a igreja onde todos podem acompanhar.

Não há nenhum registro dessa procissão, os próprios moradores do povoado não sabem como nem porque essa prática começou, e algumas atribuem isso ao fato de que as crianças não podiam ir, portanto não era passada a informação de geração a geração. As pessoas mais velhas contam que antigamente as mulheres não podiam nem sair de casa e que algumas crianças do sexo feminino tentavam chegar perto da porta pra ouvir as rezas ou olhar pelo buraco da fechadura, mas eram repreendidas pelas mães. Não era permitido que crianças e mulheres participassem da procissão.

Uma medida recente permite que as mulheres acompanhem os homens até um trecho do percurso, mas nunca até o cemitério. Outra medida também recente é que os jovens dramatizam a via sacra de Cristo quando os homens descem em procissão. E todos seguem até a igreja.

Como não teremos sexta-feira santa nem no mês de outubro, nem no de novembro – data da filmagem - eu propus aos moradores que refizessem a procissão em dois de novembro, dia dos finados, única e exclusivamente para ser filmada. E eles toparam.


Foto por: Jero Soffer
Texto escrito por: Clarissa Rebouças em 28.08.09